Folha de São Paulo, em 10.4.2011
O despreparo dos pracinhas e do Brasil
JOÃO BARONE
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Ao desprezar a história da FEB na Segunda Guerra, o Brasil seguirá despreparado para assumir seu lugar, seja lá qual for, onde quer que seja
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Entre os conhecedores da incrível saga que foi a participação do Brasil na Segunda Guerra, existe uma história que é exemplo dos muitos paradoxos que envolvem o tema. Quando os ex-combatentes eram abordados por jornalistas ou documentaristas buscando algum fato sobre a participação do Brasil na guerra, começavam a entrevista com uma pergunta ao entrevistador: "Mas o senhor vai falar bem ou vai falar mal da FEB?".
Acredito que a maioria dos ex-combatentes que leram a matéria da Folha sobre o despreparo dos pracinhas ("Pracinhas foram à 2ª Guerra sem preparo", Poder, 3/4) deve ter achado que ela era "uma matéria contra a FEB".
Para o público em geral, o mesmo artigo deixou dúvidas se o esforço empreendido para essa façanha valeu ou não. Por outro lado, serviu para tirar da toca aqueles que, como eu, acreditam que esse esforço não foi em vão.
Depois de sofrer com a guerra e de provar que o brasileiro tem fibra e coragem no campo de batalha, os ex-combatentes brasileiros, ao contrário dos ex-combatentes de outras nações, foram esquecidos e -pior- depreciados em seu próprio país. As desculpas para tal gafe são sempre as mesmas: fomos joguete nas mãos dos Estados Unidos e o brasileiro não tem memória.
Longe de qualquer tentativa ufanista de enaltecer a participação do Brasil na Segunda Guerra, é preciso entender aquela época, avaliar o que aconteceu, como a parceria Vargas-Roosevelt, os torpedeamentos dos navios brasileiros pelos nazistas e a tentativa de incluir o Brasil no bonde da modernidade, no momento em que se desenhava a ONU e uma nova ordem mundial.
Pano rápido. Durante seus oito anos de mandato, o ex-presidente Lula esteve por diversas vezes na Itália e não se preocupou em visitar uma única vez o solene Monumento Votivo na cidade de Pistoia, que foi erigido em honra aos 470 brasileiros que morreram em combate na guerra. Isso retrata bem o desconhecimento que o brasileiro comum tem dessa passagem importante da nossa história.
Meu pai, que foi um dos 25 mil pracinhas, pouco falava sobre seus dias no front. Os que lutaram preferiram esquecer. Nós é que não podemos nos esquecer, pois seria invalidar esse esforço. Se foram vítimas da política, dos interesses econômicos, se estavam despreparados, pouco importa. O Brasil lutou. Se foi preciso ou não, podemos discutir isso até hoje, à luz da democracia, que inclusive voltou ao Brasil depois da guerra.
O fato é que lutamos. Muitos países que lutaram contra a tirania nazista estavam despreparados. Mas o Brasil foi lá, cruzou o Atlântico, numa verdadeira epopeia, tentando entrar a fórceps na modernidade. Só isso já seria motivo para entender o que aconteceu e validar o sacrifício de quem esteve sob fogo de metralhas e canhões nazistas.
Voltando um pouco no tempo, o presidente americano Roosevelt prometeu à Vargas um lugar de destaque para o Brasil na ONU, o que não aconteceu. Até hoje estamos esperando uma cadeira no Conselho de Segurança, depois de mandar tropas ao Suez, ao Timor Leste e ao Haiti. Ao desprezar a história da FEB na Segunda Guerra, o Brasil vai continuar despreparado para assumir seu lugar, seja lá qual for, onde quer que seja. Viva a FEB!
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JOÃO BARONE baterista da banda "Os Paralamas do Sucesso", produziu o documentário "Um Brasileiro no Dia D" e prepara um documentário e um livro sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra.
Infelizmente não houve ninguém da minha família na FEB e por isso meu envolvimento com o tema foi tardio. Hoje sinto uma necessidade imensa de poder contar as estórias e a História da FEB a meus dois filhos, e a todos que tenha oportunidade, resgatando e preservando a memória daqueles que lutaram, muito bem por sinal. Gostei muito deste artigo. Obrigado JB e aos demais entusiastas. Obrigado Vitor e Ana.
ResponderExcluirQuem escreveu este artigo na Folha de São Paulo, demonstra claramente que não conhece e despreza a história do nosso querido BRASIL. Aliás, a bem da verdade, nossa mídiazinha ( no diminutivo mesmo ) nunca divulgou algo que enaltecesse os nossos HERÓIS que deram conta do recado gloriosamente; nossos Herois, a bem da verdade, são enaltecidos até pelo povo Italiano ( ..já estive lá e vi de perto! ) mas esquecidos no BRASIL; o que é vergonhoso para nossos governantes ( FHC, Lula entre outros...)
ResponderExcluirMas definitivamente nossos Soldados deram os passos acelerados ( suor e sangue ) para a modernidade da nossa PÁTRIA; ( Cito Febianos que influenciaram a visão de modernidade: Gen. Amaury Kruel, Gen. Castelo Branco, Gen. Falconiére, Capitão Plinio Pitaluga, Sargento Max Wolf...e tantos outros), eu diria que o BRASIL iniciou o processo de modernização com o episódio dos 18 do Forte de Copacabana em 1922 (Revolução dos Tenentes !) ...e a revolução de 1930, marco divisório da nossa Modernização..
Viva a FEB!...viva o BRASIL!
George Aislan
Perfeito! Tenho orgulho da FEB ! Tenho orgulho dos nosso hérois!
ResponderExcluirlambert
"Conspira contra a sua própria grandeza, o povo que não cultua seus feitos heróicos".
ResponderExcluirAgradecemos os comentários. Algo parecido (mas não exatamente do ponto de vista pecuniário) ocorre com alguns aviadores da Segunda Guerra, que aguardam a concessão da patente correto (v.g. - Tenente-Brigadeiro) pela via judicial. Uma pena...
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