domingo, 13 de agosto de 2017

Até Logo, Leme...

A História se repete, como a vida ordena, e mais um ‘pracinha’ se une a seus companheiros no Bivaque Eterno, coincidentemente da mesma Votorantim, encostadinha em Sorocaba.

Com Zito, foi fácil elaborar a homenagem, pelo histórico de contato com a família, vivência de tempos idos e visita de 2011.


Com Antonio Leme, é preciso imaginar, apenas e tão somente. Nascido a 21 de janeiro, como eu, mas em 1920, Leme contava já 97 anos e era tão desconhecido para mim, como é para os que lêem esta homenagem. Voltou da guerra em 1945 e demorou para se apresentar aos familiares, porque parece ter sofrido com amnésia temporária no Rio de Janeiro, sendo localizado após seis meses, reconhecendo sua mãe e voltando para Votorantim em 1946, onde constituiu família, chamando sua filha mais nova, curiosamente, de Toscana – deve ter se impressionado!

Partiu em 09 de agosto de 2017.

Contatada a unidade militar da cidade, Leme também contou com solenidade fúnebre a altura de sua importância, no dia 10 de agosto.

Reforça-se, por óbvio, a necessidade de resgate histórico desses nossos heróis esquecidos, daquele contingente de 25334 brasileiros enviados ao Norte da Itália em 1944. Como mencionado em outras ocasiões, eles estão por aí, esparramados por este país-continente e embarcando em velocidade exponencial para o Acampamento Final.

Para você, Antonio Leme, que viveu, atravessou o Atlântico, lutou, voltou e viveu ainda mais, nosso reconhecimento neste último adeus. Fica o registro do correspondente de Guerra Rubem Braga:

Esses homens que estão na frente não pretendem ser bichos sobrenaturais, nem pensam em derrotar os nazistas a grito ou a pelego.
Eles lutam.
Não são muitos, mas lutam e lutam honradamente, e lutam direito, dia e noite, ao frio à chuva, uma luta penosa.
Não precisam que ninguém aqui ou aí exagere o que fazem, em trololós patrioteiros.
Eles não são monstros: são lavradores, trabalhadores de vários outros ofícios, estudantes, moços de escritórios, simples filhos-de-família, são rapazes brasileiros que foram mandados aqui ou vieram como voluntários.
E eles dão conta do recado.”


Agradeço a Milton Parri, Nilze Campos e “Junior Silveira”, pelas informações elementares e únicas fotografias disponíveis. Quantos outros “Antonios” não estarão perdidos por aí?

Lá acima, cá embaixo, a Cobra Continua Fumando.


Jaboticabal, 13 de agosto de 2017. Vitor e Ana

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Inté, Zito!

Deixou-nos hoje mais um herói da FEB, este meio escondido, como tantos outros por aí, perdido num dos bairros da cidade de Votorantim SP.


José Carlos de Campos, o Zito, que amparou minha mãe quando trabalharam juntos numa das maiores escolas do Estado de São Paulo, o Daniel Verano.

Estava com 95 anos e a solenidade fúnebre contou com o carinho de algum admirador, como nós, para auxiliar na organização, de acordo com o relato sucinto de minha mãe, sorocabana da gema e presente ao cortejo:

"filho
o zito teve direito a uma cerimônia linda.
com tiros de fusil.
com toque de silêncio.
foi carregado e guardado pelos moços fardados do destacamento de votorantim.
caixão coberto com a bandeira do brasil, dobrada e entregue solenemente para a filha.
tudo isso foi organizado pelo moço chamado MILTON PARRI.
o hino do expedicionário foi cantado duas vezes.
o milton parri entregou uma cópia a cada um dos presentes.
meu amigo zito teve direito a todas as honrarias que qualquer pracinha brasileiro merece."

Ana e eu estamos tristes, porque além dele perdemos Hugo Correa e Antonio da Motta há pouco tempo, e vamos nos sentindo 'órfãos' dessas referências heróicas de um tempo distante com valores tão diferenciados.

No livro "Vivendo entre Soldados (...) expedicionários sorocabanos da FEB", de Luiz Antonio Oliveira, o sobrinho de Zito, José Carlos de Campos Sobrinho, escreveu na apresentação:

"(...) levando em conta o aspecto de valorizar as histórias humanas e pessoais (...) que encerro este prefácio contando uma história que me é muito cara, pois se refere a minha própria ligação com esses fatos da II Guerra Mundial. Naturalmente, essa ligação é com um desses jovens heróis guerreiros da FEB, e que representa o motivo principal, ao lado da amizade com o autor, de eu estar redigindo esta apresentação (...)


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Era um domingo, início de agosto, ano de 1945...
- Seu Josias!... Dona Maria!... Ele chegou da guerra!...
(...) as pessoas foram abrindo alas para que passassem:
- É a irmã do Zito com os filhos! O pequeno, de colo, que ele nem conhece, tem o nome dele. Abre passagem para eles!
(...)
Zito abraçou a irmã, o cunhado, fez graça para a sobrinha Lila, que era seu xodó e em seguida, tomou nos braços o menino que trazia seu nome e, levantando-o, chorou emocionado por estar vindo de uma guerra em outro continente, de volta a sua casa e tendo às mãos a criança cujo nome lhe rendia homenagem, um feliz símbolo da paz.
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É essa a história. E foi assim que eu conheci meu tio, sem nenhuma noção ou memória do que conto, mas com a veracidade e a emoção das palavras de minha mãe, que me repetiu essa história eternamente, enquanto viveu.
Zito era o soldado José Carlos de Campos, do 1º Batalhão do 6º RI da Força Expedicionária Brasileira.
'Se vis pacem, para pacem'.
Sorocaba, verão de 2011 - José Carlos de Campo Sobrinho"

Ficam algumas fotos, nas quais Zito aparece do jeitinho que devemos registrar em nossas memórias, com ele e com tantos outros que foram subindo para o Bivaque Eterno...

A Cobra continua Fumando!



Jaboticabal, 08 de agosto de 2017. Vitor e Ana